Sintoma usual e perceptível é o apego destemperado pelas redes sociais.
Ultimamente todos ficamos demasiado conectados, creio eu. No dia a dia basta
olhar em volta e enxergar a massa de gente mergulhada numa letargia que por
vezes irrita: Há pessoas incapazes de largar por minutos o celular em prol da
bela conversa numa mesa de bar, por exemplo. Existe uma interação virtual que
tem deturpado o mundo em que vivemos, o mundo real. Ironicamente um sistema
elaborado para conectar pessoas possui em efeito colateral indesejável ao
conectar os distantes e desconectar os próximos. Porém, a culpada seria a
própria rede ou as pessoas que fazem uso equivocado? Fico com a segunda opção.
Em qualquer brecha de tempo que se tenha tá lá o sujeito encalacrado na telinha
luminosa.
Uma frase coerente, já citada numa ocasião qualquer aqui do blog: A medida entre o remédio e o veneno é a dose.
Pois é... Eu, numa perspectiva crítica vejo que boa parte dos internautas tem
usufruído de generosas goladas dessa fonte internética, que os infectaram com a
síndrome do "vamos marcar!" (e ninguém marca nada). Andam meio cegos
ao que lhes acontece no cotidiano, perderam o gosto por papos de besteirol em
companhia de gente que se pode tocar. Uma vida social de sofá mesmo, onde
qualquer coisa que transponha o curtir, o comentar e o compartilhar dá muito
trabalho. E ficamos assim, um bando de sedentários revoltados pensando sobre
qualquer assunto: "Mas que absurdo! Vou compartilhar isso no
Facebook!". Sim... Esta é, na maioria das vezes, nossa atual reação ofensiva sobre um tópico desconfortável. Cliques que moverão céus e terra. Ah sim, ok...
É uma questão de medidas. Sou usuário de redes sociais desde o
começo, aliás, mesmo antes delas existirem já usava meu e-mail como uma
poderosa ferramenta de comunicação. E então vieram os blogs, fotologs, Orkut,
Twitter, Facebook. Embarquei sempre com restrições pra que minha vida não
girasse em torno de algo que tem como serventia a comunicação, como se fosse um
telefone mesmo. Consigo abordar todos os meus amigos numa só tacada e dar o
recado sem haver necessidade de ligar para cada um deles em separado. Essa é a
funcionalidade essencial da coisa e a razão da existência de praticamente tudo
o que receba o rótulo de "rede social". Uso como conexão com os
camaradas, deixando de lado o hábito doentio de transmudar minha vida num
telejornal em que tudo precisa ser exposto. Obviamente compartilho o que me
interessa e o que acho que interessará aos demais usuários, só que com uma
divisão de tempo, um certo cuidado pra não ver o dia passar sem que nada mais
seja feito. Uma nesga virtual. E só. Redes dão uma projeção bacana ao que se
deseja dividir, porém, muitos caem na armadilha de dar ao processo um quê de paranoico.
É algo que te auxilia, mas que não pode te dominar. É explícito o
uso espalhafatoso. Andam exagerando na dose e nano-arrobinhas penetram no DNA
diariamente. É o prisma central de muitos. Honestamente não consigo me imaginar
viciado em coisas assim. Outro dia conversava com um amigo e ele me disse que
já existem doenças no campo da psicologia pós internet, catalogadas inclusive
(porque será que não me surpreendi com a notícia?). Estamos vivendo num mundo
fantasioso em que tudo é facilitado: Funcionalidades diversas deixam o cérebro
preguiçoso, penso eu. Tudo já vem pronto e até o hábito da escrita por
iniciativa do internauta é castrado por opções do tipo "marcar" em
que as frases e estados de espírito vêm prontinhos, formatadinhos, pra que eu
marque um X no que quero publicar. Afinal, qual é o porquê de eu raciocinar
elaborando frases se já tenho a minha disposição um emoticon alegre, um triste,
um pensativo, um ansioso e etc e tal? Escrever vai me deixar fadigado...
Nem tudo são trevas e quando digo que é uma questão de medidas há
que se refletir também sobre o aspecto positivo: A respeito de todas as manifestações
populares contrárias à corrupção, percebemos como nunca antes o poder midiático
das redes sociais. Já tínhamos toda uma mídia paralela montada e me parece que
só agora nos demos conta da projeção monstruosa que elas têm a nos oferecer,
percebendo que não estamos mais atados aos noticiários com roteiros pré
definidos das emissoras de tv. Muitos políticos que usufruiriam das redes para
fazer aquela média bacana com os eleitores já viram seu prestígio escoar pelo
ralo (se é que alguma vez foram legitimamente prestigiados). Este é um aspecto
inovador num universo que é tão mais do mesmo. Bem ou mal, independente do desenrolar de tudo o que é discutido, fato concreto é que existe um poder de mobilização espantoso. Basta querer realizar na vida real. #ogiganteacordou , teve um leve espasmo e retornou aos braços de Morpheu. Falta mais um balde d'água fria na cara desse displicente continental.
Vamos ver se daqui abriremos uma
brecha e daremos um fôlego renovado a algo que é útil, embora banalizado. Quem
sabe?
O jeito é aguardar. E que a emenda saia melhor que o soneto!
Tomara.
2 comentários:
Excelente texto, Rui!!! Muito bem escrito e argumentado. Parabéns de verdade!!Eu também estou para escrever no blog sobre isso e adicionando mais uma observação a todos os seus comentários: a pressa que as pessoas têm de experienciar (viver, não! rs) situações para ter munição para posts, para manter a "roda girando". Os eventos parecem monótonos, mas as fotos para o face são sempre caprichadas e depois, quando tudo é postado, parece até que os internatautas estavam MESMO no tal evento. Mas não. Já vi conhcidas minhas passarem festas inteiras sentadas, mas tirarem uma meia dúzia de fotos com a galera e depois colocarem no face: a festa bombou! De fato, uma festa em que se passe sentada é uma bomba, mas penso que não era essa a intenção do post... heheheh Enfim... Vou desenvolver essa ideia melhor lá no meu espaço. Vou te seguir por aqui! Beijos, Mari
Huuuum, interessante. Também sou uma curiosa do meio digital, em especial ciência das redes. O mundo tá diferente, mas sou uma otimista incorrigível: creio que está melhor agora. Sempre teremos desafios a superar, quaisquer que sejam as novidades. O ser humano é uma tecno-espécie; então desde sempre se utiliza de "órteses" tecnológicas, que modificam e vão continuar modificando nossa maneira de perceber a realidade. Sempre foi assim e sempre será enquanto formos humanos! :-)))
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