domingo, 3 de janeiro de 2010

VENDETTA



"Atrás desta máscara não há apenas carne. Existe uma ideia. E ideias são à prova de balas".


Até onde as máscaras são válidas? Existe a possibilidade de nos esquecermos sobre quem somos e sobre o que viremos a ser quando as usamos demasiadamente? Nossos medos nos acorrentam. Talvez por isso nos encaixamos em posições cômodas. O adereço nos cai bem.


Me deparando com "V de Vingança" pude reconsiderar muitos aspectos. É um daqueles filmes em que se consegue transportar para a vida real as ideias que compõem a obra. Como o próprio nome sugere, trata-se daquela inquietação inerente à maioria das pessoas (óbvio que guardadas as devidas proporções). Daquela inquietude que nos assalta diante de injustiças. O filme chega a questionar o bom uso da violência. Tenho as minhas convicções pessoais e não quero expô-las aqui. Não por enquanto.


Não viso aqui reproduzir a sinopse e sim escrever algo a respeito do que apreendi. Passando pelas verdades estabelecidas, ponto que mais me chamou a atenção. E como estas tais verdades são mantidas? Através da mídia de massa que deixa a multidão torpe e não permite que as amarras sejam partidas. A multidão silenciosa acompanha o passar da História. É preciso acordar. Parafraseando a personagem central: "Quanto maior a quietude, mais arrasadoras serão as palmas".


O enredo é traçado numa Londres futurista e totalitária, onde o governo decide "o que é melhor" aos cidadãos. Não há espaço para insurgências e aqueles que se atrevem são punidos com rigor. Controlados, domesticados e sedados. Existe um pequeno recuo no início que nos remete à história de Guy Fawkes, no século XVII. Guy tentara explodir o Parlamento inglês em protesto aos atos descabidos de corrupção e abuso. Acabou traído. Moore, a personagem conhecida pelo codinome "V" foi inspirado neste fato real.


V procura o despertar da população contra os mandos do governo ditatorial através do caos, destruindo os grandes símbolos de poder. O balançar das estruturas e a conscientização são suas ferramentas. Tem consciência de que rema contra uma grande maré, porém, seu objetivo é propagar sua verdade ao maior número possível de pessoas.


Mesclando "O Conde de Monte Cristo" (ideal de vingança) com William Shakespeare (romantismo e natureza humana), V traz à tona o inconformismo, a inteligência e o sarcasmo. O sentimento vingativo não é em vão: Vítima de tortura e experimentos que o deformaram definitivamente, ele busca e executa, um a um, os responsáveis pela barbárie. Seu sentimento agrega intenções grandiosas como a libertação e o surgimento de uma nova nação, mais livre e plena de seus direitos. Neste contexto questiona-se o "bom uso" da violência.


A mensagem passada pelo filme é muito maior que uma simples história de vingança pessoal. Aborda a verdade que cada um tem acerca de si mesmo. Nos faz refletir sobre o cotidiano, sobre o que nos é imposto. Sim, muito do que vivenciamos hoje é imposto, na maior parte das vezes, de forma subliminar embutida em aceitações silenciosas.
Por estas razões recomendo. belíssima obra.
"Você usa tanto uma máscara que acaba se esquecendo de quem você é".




2 comentários:

Chris disse...

Amore, teu post merece outros.
Ficou excelente. Parabéns.
Fluente, coerente e iluminado.
As máscaras nos são impostas sim. Mas algumas podemos nos dar o prazer de tirar.
Há pessoas no mundo para quem podemos nos mostrar sem máscaras, sem alegorias ou adereços. Simplesmente uno mismo.
Não se esqueça de quem tu é. Aliás, às vezes ainda não se descobriu quem é. Primeiro descubra, depois assuma-se.
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser quem é"
Beijos

pimbriani disse...

Muito legal seu texto... Parabéns pelo Blog...