terça-feira, 23 de junho de 2009

Benjamin


"4 de abril de 1985, Nova Orleans


Este é meu último testamento. Não tenho muito para deixar: algumas posses e pouco dinheiro. Vou deixar este mundo da mesma forma como cheguei, sozinho e com nada. Tudo o que tenho é a minha história. Escreverei enquanto ainda posso lembrar. Meu nome é Benjamin Button."

Dias atrás, caminhava eu pela rua, quando, um edifício antigo despertou minha admiração. Me detive por um momento para apreciá-lo. Enquanto olhava calmamente para aquela arquitetura tão rica em detalhes, imaginava os construtores, os cidadãos que passavam pela rua durante todo o tempo em que o edifício levou para se erguer. Pensava em como seria o bairro antes mesmo da obra ser iniciada.
Fiz uma inevitável analogia: As pessoas são como a poeira que o vento do tempo vai varrendo, conforme manda a brisa. Este vento ininterrupto foi movendo a poeira da rua muito antes que eu passasse por ali. E claro, serei levado também. Essa imponência da vida faz com que eu me sinta insignificante. Mas não numa perspectiva pejorativa. Esta insignificância me traz reflexão, revisão, amadurecimento. Me faz concluir que perder tempo com mesquinharias, com egos inchados, com pequenas confusões, com egoísmos e sobretudo com mágoas, é gastar de forma fútil o tempo que nos é cedido.
Acredito que não apenas eu, mas também outras pessoas, vamos percebendo que a cada página arrancada do calendário, este limite de tempo vai se tornando gradativamente mais curto. Tendemos a escolher entre dois rumos: O da contemplação da vida ou o da inércia espiritual, quando nos tornamos empedernidos a tudo. A escolha varia de acordo com a forma de como avaliamos o cotidiano. Chamo esta atitude de "escolha" e não "decisão" pois, a qualquer momento, estamos passíveis de questionamentos e reposicionamentos.

Particularmente apreendo que a vida, sendo tão tudo e tão nada ao mesmo tempo, mostra o quão importante é conviver com gente que ri de si mesma, com gente que não se ilude com a sua própria mortalidade, com seres que têm consciência do quanto a vida é efêmera e até por isso não se acorrentam às mesquinharias, apostando que amanhã as coisas chegam ao seu lugar.
Com estes pensamentos aflorados, assisti ao "Curioso caso de Benjamin Button", um filme baseado na obra de F. Scott FitzGerald no início século XX.



O filme, com Brad Pitt (Button) e Cate Blanchett (a bailarina Daisy) nos papéis principais, conta, com muita sensibilidade, a partir dos últimos dias da velhice de Daisy, a trajetória de um homem nada convencional, abandonado pelo pai e criado em um asilo. O encanto do filme está no fato de Button carregar consigo um diferencial: nasceu velho... partiu sendo um bebê.




Por trás de toda a produção e direção impecáveis (David Fincher: Clube da luta, Alien 3, Seven, entre outros...), existe uma reflexão sobre o inevitável passar do tempo. As demais personagens não são ofuscadas pelo casal principal, que vive uma bela história enquanto Daisy envelhece e Button rejuvenesce.



Entre tantas personagens carismáticas alguns merecem ser comentados, como é o caso do truculento Capitão do rebocador Chelsea, Mike Clark, que sonha em ser artista e lamenta pelo pai, que sempre o inferiorizou dizendo que ele seria pra sempre o capitão do rebocador. Mike amava suas tatuagens e dizia que teriam de esfolá-lo vivo para tirarem-nas dele.

Mike contrata Button para os serviços do barco e a partir de então, com o resto da tripulação, viajam por diversos portos do mundo, tornando-se grandes amigos. Mike é um patriota e no decorrer da Segunda Grande Guerra, seu navio é convocado informalmente para fazer parte da Marinha Americana, após o episódio de Pearl Harbor.


A tripulação se depara em alto mar com um submarino japonês. O rebocador é massacrado e o único a sair ileso é Button. O capitão, agonizando diante dele, pragueja por que uma das munições inimigas o acertou bem em cima de uma de suas tatuagens, e também diz: "podemos ficar zangados com as situações, podemos reclamar ou amaldiçoar o destino... mas quando chega o fim, temos de aceitar."

Já Elizabeth Abbot... desperdício... tempo perdido... voltar atrás e alterar algo... Durante as viagens de Button eles se conhecem no "Winter Palace", um hotel inglês. Os dois passam noites a fio conversando sobre todos os assuntos.


Elizabeth se mostra uma mulher amarga, frustrada. Mas diante da simplicidade espontânea de Benjamin, ela começa a ter uma visão diferente da vida. Ela conta que certa vez decidiu atravessar o canal da mancha a nado, mas quando faltavam apenas 3 quilômetros, por causa de uma forte tempestade, ela resolveu desistir faltando tão pouco. Porém, isso foi antes de seu casamento com um pastor.
Agora, triste, rabugenta e reprimida, passava a vida em missões ao lado do parceiro.

Benjamin a ensinou - sem esta intenção - que tudo é possível. Os dois tiveram um romance secreto, mas apenas durante a estadia. A reprimida senhora partiu com o marido, deixando apenas um bilhete de despedida. Os dois nunca mais se viram novamente. Anos depois, Benjamin, sentado numa mesa de bar (e já bastante jovem) assiste pela TV um evento... uma senhora acabara de atravessar o canal da mancha com uma expressão feliz no rosto, aos 68 anos de idade, dizendo "que tudo é possível."


No asilo há um senhor já bem velhinho que vive a dizer que foi atingido sete vezes por um raio. Num momento de lucidez ele diz a Benjamin: "meu filho, sou cego de um olho, ouço muito mal. Eu tenho tremedeiras de repente e sempre esqueço o que estava dizendo... mas sabe de uma coisa? Deus vive me lembrando que tenho sorte em estar vivo."

Além disso, "o curioso caso de Benjamin Button" gira em torno do drama vivido por seus dois personagens principais: Button, óbvio, vive conflitos sobre sua condição, principalmente depois que se torna pai ("minha filha precisa de um pai, não de um colega"). E Daisy, torna-se uma bailarina bem sucedida, sendo a única americana a ser convidada a integrar o Balett Bolshoi, até que uma fatalidade interrompe seus sonhos: um acidente grave a deixa impossibilitada de dançar pelo resto da vida... O filme fala também sobre destino... Será que algumas coisas estão escritas para acontecer? (abaixo):
"As vezes estamos em rota de colisão e não sabemos. Seja acidentalmente ou por desígnio, não podemos fazer nada.




Em Paris, uma mulher estava indo fazer compras, mas tinha esquecido o casaco e voltou para pegá-lo. Quando pegou o casaco, o telefone tocou. Ela parou para atendê-lo e falou por alguns minutos. Enquanto ela estava ao telefone, Daisy ensaiava no teatro de Paris. E enquanto ela ensaiava, a mulher tinha saído para pegar um táxi.




Um taxista tinha deixado um passageiro e parou para tomar café. Nesse tempo todo Daisy estava ensaiando. O taxista que tinha levado o passageiro e que parou para tomar o café, apanhou a Sra que ia fazer compras e que tinha perdido o outro táxi. O taxista teve que esperar um homem que saiu para o trabalho 5 minutos atrasado porque esqueceu de ligar o alarme.




Enquanto o homem estava atravessando a rua, Daisy terminou o ensaio e foi para o banho. Enquanto ela tomava banho, o taxista esperava a Sra que havia entrado numa loja. Ela foi buscar um embrulho que não tinha sido feito porque a moça que ia embrulhar havia terminado com o namorado e se esqueceu de embrulhar. Quando foi embrulhado, a mulher voltou ao táxi.




O taxi foi bloqueado por um caminhão, enquanto Daisy estava se vestindo. O caminhão de entregas foi embora e o táxi andou... Enquanto Daisy, a última a se vestir, esperava sua amiga, cujo laço do sapato arrebentou. Enquanto o táxi estava parado no semáforo, Daisy e a amiga dela saíram pela porta dos fundos do teatro..."


Então ela foi atropelada... quebrou a perna em cinco lugares e nunca mais dançaria de novo.


E se apenas uma coisa tivesse acontecido diferente?

Se o sapato da sua amiga não tivesse desamarrado, se o caminhão de entregas não tivesse parado na frente do táxi, se o rapaz que atravessou a rua correndo tivesse se levantado cinco minutos antes do despertador, se a moça não tivesse esquecido de fazer o embrulho, se o taxista não tivesse parado para tomar o café, se a moça tivesse conseguido pegar o primeiro táxi que passou, se o telefone não tivesse tocado...
Sem mais delongas, é um filme que merece ser visto: destino, possibilidades, tempo, questionamentos... mostra também que "nossa vida é feita por oportunidades, inclusive por aquelas que perdemos."

6 comentários:

Ananda disse...

Legaaaaal!
O filme é mto bom, sua sinopse tbm!

AH, se quisaer dar uma olhada:
http://teaclubbers.blogspot.com/
Projeto novo onde vários amigos postam diariamente sobre temas variados
xD

Eduardo Trindade disse...

Muito interessante ler teus comentários sobre este filme. Não é um filme leve, mas é daqueles que convidam à reflexão.
Há filmes que nos marcam por diversos motivos, este me marcou, entre outras coisas, por eu tê-lo assistido numa situação particular. E me deste a oportunidade de recordar agora!
Abraços!
PS: Obrigado pelos elogios ao meu blog!

Nathy disse...

Vi seu comentário na comunidade "Eu tenho um blog". Obrigada pelo elogio sobre meu blog. Não escrevo para agradar ninguém, sabe?! Mas é sempre muito bom receber elogios de pessoas que compreendem o que a gente escreve. Já assisti esse filme também, e é realmente muito criativo. A gente para pra pensar mesmo...Abraços! E sucesso...

Pauline Machado disse...

Olá Rui,

em primeiro lugar quero parabenizá-lo pelo blog! Muito bacana, principalmente por abrir espaço também para a questao da adoçao de animais.

Em segundo, somos conterraneos, mas moro em Curitiba.

Em terceiro, te dizer que gostei muito do filme em questão. Realmente nos faz pensar em nossas vidas e sobre o que estamos fazendo com ela.

Como diria Belchior: "...tenho pressa de viver..." - coração selvagem

Enfim, virei seguidora, viu?! rsrsrs

E tomei a liberdade em linka-lo ao meu.

Um forte abraço, Lin!
www.paulinemachado.com.br

Anônimo disse...

vou visitar sempre aqui..apreciar aos poucos teus textos.bj

Chris disse...

Rui,
bela reflexão sobre Benjamin. Também penso, algumas vezes, nas possibilidades. Mas o 'se' não existe. Se fosse, se viesse, se fizesse. Não. Reflita, analise e faça. O resto é consequência. A lei da ação e reação é perfeita.
E sejamos felizes com o que construimos e com o que o universo nos proporciona.
Me tocou o momento que tu parou na frente do prédio. Tu parece pertencer ao grupo dos poucos que observa a vida, que aproveita a viagem, que olha as flores pelo caminho. Isso é a beleza da vida.
Inspire-se e expire. Tudo na vida é trabalho (pra mim). Mas um trabalho muito prazeiroso.
;*
Chris