quinta-feira, 25 de junho de 2009

ANJOS E DEMÔNIOS - O FILME.

Confesso que esta foi uma das produções que aguardei com a maior ansiedade. Sou fã número um do livro homônimo. Aliás, sou fã de todos os livros escritos por Dan Brown. Tratando objetivamente de "Anjos e Demônios", digo que é um dos meus livros preferidos. Ação e História mesclados com equilíbrio.

Todavia, como nem tudo são flores, a produção em tela grande deixou em mim uma certa decepção. aquela convicção de que poderia ter ido além não me deixa indiferente.


Alterações ou cortes são compreensíveis se levamos em conta que literatura e cinema são linguagens que têm lá as suas diferenças. Não haveria, com relação às tantas obras já escritas, uma narrativa hábil o bastante para reproduzir na sua inteireza, o conteúdo de um livro. Exemplo disso está nas palavras de Peter Jackson com o seu "Senhor dos Anéis", que ratificam perfeitamente o que digo aqui. Mas deixemos Hobbits, Elfos, Anões e afins de lado neste texto.

Linguagens diferenciadas podem explicar, mas não justificar o verdadeiro assassinato cinematográfico que presenciei. Onde estavam com a cabeça os roteiristas, ao excluir de cena personagens importantes do enredo?

Sem a menor cerimônia passaram a borracha sobre Maxmilian Kohler que protagoniza no livro boa parte da história, inclusive nas partes finais, alteradas de forma grosseira. Kohler é o diretor de um laboratório conhecido por CERN. Ele é quem chama Robert Langdon para uma investigação, começa aí o fio da meada. No filme ele simplesmente não existe e tão pouco é citado . Eu não conseguia imaginar "Anjos e Demônios" sem ele.

E o que dizer de Vittoria Vetra? No texto original, sua ânsia por vingar a morte do pai adotivo impulsiona a trama, sendo a parceira ideal de Robert Langdon. Na adaptação, Seu pai não existe e ainda é substituído por um tal "Silvano", que não significa absolutamente nada se olharmos o todo. Vittoria teve a dignidade de permanecer no roteiro, porém, toda a carga dramática da personagem que contribuiria - e muito - na tela, foi ignorada. Foi decidido que ela seria mantida, mas como mera sombra da personagem principal.

Quem também teve seu brilho ofuscado foi o primeiro secretário de sua santidade, o Camerlengo Ventresca (no longa tem outro nome), com seus traumas, sua relação densa com o sumo pontífice e sua história de vida que - a exemplo de Vittoria - tanto enriqueceram as páginas de Dan Brown, foi banido. Ventresca sem dúvida proporcionaria impacto maior na trama se não tivesse sido tão podado, reduzido a mero coadjuvante, a um adereço secundário. Este corte foi o que mais lamentei.

Uma razão admissível para tantas alterações talvez esteja naquela típica visão mercadológica do cinema. É quando a preocupação com o retorno financeiro pôe um filme adaptado a perder. A meu ver, o filme está aquém do livro, pois cometeu pecado imperdoável ao privilegiar a ação acéfala em prejuízo do conteúdo, destruindo o equilíbrio ao qual me referi antes, tornandoo filme... digamos... "ralo", na falta de um adjetivo melhor.

Reforçando meu comentário, cai bem lembrar que o foco do ponto de partida e razão de ser da história é colocada en passant: O drama de Galileu Galilei e a perseguição iniciada pela igreja contra uma irmandade secreta (os Illuminati). Além disso, outro ponto corre em paralelo: uma nova fonte de energia desenvolvida (anti-matéria), com poder destrutivo semelhante ao armamento atômico.

Como estes pontos se unem no contexto? Sendo o mais breve possível: um frasco com quantidade considerável da anti-matéria é colocado em um ponto secreto da Basílica de São Pedro, pronto para explodir em poucas horas. E quem o colocou lá? Elementar, meu caro! Um dos Illuminati (plural da palavra latina "illuminatus" - aquele que é iluminado).

Como não fosse o bastante, tudo isso se dá justamente no dia da eleição do novo Papa, com o sequestro de quatro cardeais, sendo um destes o "preferiti", o preferido ao cargo. Esse verdadeiro pandemônio é parte dos planos de vingança em resultado à toda a perseguição promovida pela igreja, séculos atrás.

Historicamente, os Illuminati existiram de fato. Se supõe que existam até os dias atuais. Era uma organização formada por intelectuais que discordavam das idéias da igreja. São rotulados "satanistas luciféricos." Uma alcunha demasiada radical, se mantido o teor da história retratada no livro.

O CERN (laboratório onde foi criada a anti-matéria) existe na realidade. Localizado em Genebra, continua trabalhando para o desenvolvimento de pesquisas voltadas à criação de partículas maiores. Esta nova forma de combustível não é poluente e nem radioativa. Mas há um porém: As antipartículas são instáveis e podem liberar uma energia de 20 quilotons, a mesma energia da bomba atômica. Lógico, há um risco considerável envolvendo sua pesquisa e utilização.


Não que "Anjos e Demônios" seja um filme ruim. Muitos pontos me agradaram, a bem da verdade. A caracterização das personagens que sobreviveram ao massacre dos roteiristas foi competentíssima tanto em termos de figurino quanto em escolha de elenco. Todos tinham o "fisique du role" exigido. Outro ponto positivo está nos cenários e locações utilizados. Estes foram, de fato, fiéis aos retratados no original. Nas tomadas externas e nas de estúdio a produção foi feliz.

Elenco:
Tom Hanks ... Robert Langdon
Ewan McGregor ... Camerlengo Patrick McKenna
Ayelet Zurer ... Vittoria Vetra
Stellan Skarsgård ... Comandante Richter
Pierfrancesco Favino ... Inspector Olivetti
Nikolaj Lie Kaas ... Assassin
Direção: Ron Howard






















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