quarta-feira, 5 de março de 2008











"OS SETE MATIZES DO VERMELHO"
AUTOR: FERDINANDO DE CARVALHO.
ANO DE LANÇAMENTO: 1977
EDITORA: ARTENOVA.



“Os sete matizes do vermelho”, obra escrita pelo general Ferdinando de Carvalho, em forma de romance, deve ser lida com certo cuidado, pois seu autor era profundamente ligado à ditadura militar. Pode se supor que sua escrita se delineia por uma vereda tendenciosa.

Após a revolução de 1964, que culminou na ditadura comandada pelos altos dirigentes das forças armadas, Ferdinando foi incumbido de uma investigação sobre as atividades do Partido Comunista no Brasil e utilizou-se das informações que obteve para elaborar este livro. Mais um detalhe: seu ano de lançamento: 1977. Ditadura.

As características que ele expõe são de certo com conhecimento de causa: o fanatismo dos dirigentes do PC, sua falta de autonomia estando preso às diretrizes Russas, a expulsão severa dos membros que se desviam minimamente das imposições colocadas pela união soviética (não adaptáveis ao caso brasileiro) e a mais expressiva deficiência: a hierarquização. Este traço contradiz a afirmação do partido, assim como a própria nomenclatura: COMUNISMO = COMUM. Na Rússia os dirigentes comunistas possuíam privilégios materiais e sociais. Eram homens ricos. Talvez esta a maior contradição.

Seria o comunismo um monstro? Pelo sim ou pelo não, ele representou uma maneira de expressar o descontentamento dos seus filiados. Muitos deixaram o conforto do lar e uma vida estável para vestir a camisa vermelha e lutar pelo que achavam certo.
Apesar dos pesares o regime comunista – onde vingou – foi bem sucedido, ao menos nos primeiros tempos, quando se instalou no poder.

Na União Soviética, por exemplo, a despeito da ditadura de Stalin, pela primeira vez o atendimento médico gratuito foi estendido à toda a população. O mesmo se pode dizer sobre o ensino universitário: filhos de operários freqüentavam a faculdade. Fato inédito até então. Não se deve também esquecer da reforma agrária.

Em cuba (único país socialista das Américas) também se chegou a este patamar, assim como na china (rompida com a Rússia na década de 1940/50).

Existem prós e contras: ao passo em que os benefícios sociais foram estendidos a maior parte da população, cresce no mesmo passo a ditadura comunista e o culto a imagem do líder, que deve ser sempre obedecido e nunca questionada. Interferência direta no livre arbítrio dos cidadãos.
O Socialismo começa a ruir durante o período da guerra fria (meados de 1940 até a década de 1990).

Apesar do capitalismo ter prevalecido em quase todo o mundo (exceções: Coréia do Norte e Cuba nos dias de hoje), ele também possui seus pontos negativos. Talvez o maior deles seja a má distribuição de renda. Um exemplo claro é o caso da dívida externa brasileira que acabou por promover esta desigualdade. Durante a ditadura militar, época em que o livro foi escrito, a dívida externa chegou aos 110 bilhões de dólares. Isto graças aos constantes empréstimos tomados aos norte-americanos pela elite brasileira. O objetivo destes empréstimos era investir na indústria de base (produção de metais e energia elétrica, por exemplo). O problema é que este desenvolvimento era restrito aos mais abastados enquanto os assalariados viviam em penúria, sofrendo com seus salários congelados que por sua vez, eram benéficos para os ricos patrões empresários: a despesa com suas folhas de pagamento era menor.

O FGTS também foi uma maneira de coagir o trabalhador. Criado durante a ditadura militar é uma espécie de caderneta de poupança forçada, onde é depositada parte do salário, já descontada no contra-cheque. De acordo com uma lei anterior a do FGTS era praticamente impossível demitir um funcionário depois de dez anos na empresa. O FGTS trouxe a ameaça de demissão: o funcionário era demitido e sacava a quantia existente na conta. Dessa forma o trabalhador era coagido mais facilmente, aceitando imposições de salários menores. Ou isto, ou morria de fome. Alem disso as greves estavam terminantemente proibidas.

Tudo isto mostra que não é um regime de governo capaz de mudar a face de uma nação. Qual o principal motivo? O mais óbvio de todos: governos são regidos por seres humanos. Estes são corrompidos, gananciosos e manipuladores.

O poder não muda as pessoas. O poder revela as pessoas.
Muda-se o lixo, mas as moscas são sempre as mesmas.

Um comentário:

Anônimo disse...

É verdade ... e o socialismo só ruiu no bloco soviético porque o sistema fordista não dominava mais o mercado global, e o sistema hierarquizado da economia socialista não soube concorrer e evoluir com o estilo de produção flexível do toyotismo.

q pena ...
saudações!